capital da geodiversidade

Geoparque Caçapava recebe selo da Unesco com expectativa de investimentos em turismo, preservação da natureza e incentivo a ações de educação patrimonial

Geoparque Caçapava recebe selo da Unesco com expectativa de investimentos em turismo, preservação da natureza e incentivo a ações de educação patrimonial

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Um território que resgata o passado da Terra, preserva a geodiversidade e está colhendo os frutos científicos, culturais e econômicos oriundos da história e do seu próprio povo. São essas características que tornam o Geoparque Caçapava um local único. Depois de longos anos de trabalho, a alcunha “aspirante” deixou de fazer parte do seu nome e, hoje, o Geoparque Caçapava tem reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), integrando oficialmente a Rede Mundial de Geoparques (GGN).

Localizada a cerca de 103 km de Santa Maria, Caçapava do Sul é um dos municípios da Região Central que conquistou o selo de geoparque em 24 de maio de 2023. Na mesma data, o Geoparque Quarta Colônia, que reúne nove cidades desta parte do Estado, também foi reconhecido pela agência da Organização das Nações Unidas (ONU). Ambas as localidades haviam passado por uma avaliação nos meses de outubro e novembro de 2022, que acabou culminando em um resultado positivo. Em 10 de setembro deste ano, os geoparques da Região Central também vão receber juntos a certificação da Unesco em uma cerimônia em Marrakech, no Marrocos.

–  É um momento muito importante para o nosso município, para nossa região como um todo, e para o Estado do Rio Grande do Sul em que nós, juntamente com a Quarta Colônia, apesar de serem projetos distintos, recebemos, coincidentemente na mesma época, tanto a visita dos avaliadores quanto a certificação, que está saindo pela Unesco. Isso vai refletir na melhora da economia, da autoestima, mexe em todo o contexto, em toda a comunidade de Caçapava do Sul que recebeu muito bem essa notícia e com certeza (estão) todos muito animados com as expectativas que vem com essa chancela da Unesco – comemora o prefeito, Giovani Amestoy da Silva.

A chegada até aqui foi feita a partir de um caminho trilhado por várias frentes, que vão desde o poder público, passando pelas instituições de ensino até a comunidade local. O sentimento de “ser geoparque” já era compartilhado por muitas pessoas que, desde o início da consolidação do projeto do Geoparque Caçapava em 2018, acreditavam na potencialidade da cidade. Agora, em meio às expectativas para o futuro, estão a ampliação dos investimentos, o incentivo à conservação da natureza, a preservação da cultura, da memória e da história, e, principalmente, o fortalecimento do pertencimento a esse território “vivo” entre as diferentes gerações caçapavanas.

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Como tudo começou

O Geoparque Caçapava abrange todo o território de Caçapava do Sul. A iniciativa surgiu a partir do desenvolvimento de atividades relacionadas ao potencial de geodiversidade da cidade, de comercialização de produtos locais e da realização de pesquisas científicas. Em 2013, foi proposto para a prefeitura que o município adotasse o título de “Capital Gaúcha da Biodiversidade”, o que ocorreu dois anos depois por meio da aprovação da Assembleia Legislativa do RS.

Para comemorar esse título e aproximar a população do conhecimento sobre a cidade, em 2015, foi criado o Geodia, evento promovido anualmente em novembro, com oficinas de educação, passeios aos pontos históricos e feiras de comercialização. Associado a isso, também foi feito um levantamento geológico do território de Caçapava do Sul pelo professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador científico do Geoparque Caçapava, André Borba.

–  Isso foi crescendo e a partir de 2018, muito mais do que iniciativas isoladas, de extensão universitária que já existiam, se criou uma estratégia realmente institucional tanto na UFSM quanto na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), sempre em conjunto com a prefeitura municipal, para fazer realmente um projeto de geoparque. Esse projeto também foi se ampliando e, em 2021, conseguimos se candidatar. Agora, estamos recebendo o certificado Geoparque Mundial da Unesco – relata André Borba.

Mas por que Caçapava é um geoparque?

Dentre uma das principais características que fazem de um local um geoparque está a presença de um conteúdo geológico de nível internacional:

– Em Caçapava do Sul, o conteúdo geológico de nível internacional é a chamada Bacia do Camaquã, um conjunto de rochas sedimentares e vulcânicas, que tem entre 600 e 500 milhões de anos de idade, sendo muito mais velho, por exemplo, do que os dinossauros. São rochas que, em termos de América do Sul, são o melhor registro de um momento que foi chamado de fase de transição da plataforma sul-americana. Não existe nenhum outro lugar melhor do que Caçapava do Sul para materializar essa fase de transição. Para completar, essas rochas estão expostas em locais que para a geomorfologia são muito importantes. Tem também os micro-fósseis, fósseis microscópicos, que são, até agora, os mais antigos do Rio Grande do Sul – explica Borba.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Dentre os fósseis de animais extintos da megafauna, destacam-se as preguiças gigantes. A cidade também possui espécies vegetais raras e endêmicas do bioma pampa. Dentre elas, estão os cactos. Esses três símbolos, as rochas, as preguiças e os cactos são amplamente utilizados para comercializar produtos com identidade local.

Na prática, o patrimônio geológico e histórico soma-se às riquezas culturais do território. O objetivo, com isso, é incentivar e promover o desenvolvimento sustentável do Geoparque Caçapava por meio do turismo.

– Compreendo que o povo tem que ter pertencimento do território. Para que o turista seja bem-vindo, temos que ter o reconhecimento do que somos, e temos as belezas naturais, temos uma cultura muito rica, nosso artesanato é muito rico também, e o geoparque veio fortalecer todos esse eixos – relata Alizandra da Silva Danzmann, pedagoga e coordenadora do Geoparque Caçapava.

Para Alizandra, o trabalho de educação com as crianças nas escolas, como a iniciativa “Guardiões do Geoparque”, é essencial para disseminar o conhecimento e, assim, manter a preservação destas características que fazem de Caçapava do Sul um geoparque.

Na última semana, o Diário esteve em Caçapava do Sul e visitou alguns locais que carregam essa herança histórica, geológica e cultural. Confira a seguir.

Geossítios

Dentro do patrimônio geológico, estão os geossítios, locais que melhor representam a geodiversidade do território, que podem ser estabelecidos em função do valor estético, científico, cultural e ecológico, por exemplo. Em Caçapava, são 22 geossítios. Dentre os mais conhecidos, estão Pedras das Guaritas, Minas do Camaquã, Cascata do Salso e Serra do Segredo.

Este último, a Serra do Segredo, tem aproximadamente 30 km² de extensão, sendo caracterizado por um conjunto de cerros íngremes, irregulares e arredondados. Muitas das formas do relevo local lembram pessoas, animais ou seres mitológicos, e por isso as diferentes elevações recebem nomes interessantes e curiosos: Pedra do Leão, Pedra da Baleia, Pedra do Índio e Pedra do ET são algumas delas.

Uma das mais famosas é a Pedra do Segredo, que mede aproximadamente 120 metros de altura. O local é considerado uma unidade de conservação ambiental (Parque Natural Municipal). A administração é feita pela empresa Tuna Ecoturismo.

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Por lá, uma das principais atividades é o turismo de aventura, com trilhas de vários níveis, escaladas e pontos de rapel. O parque também possui espaço para camping. O funcionamento é de terça-feira à domingo, das 9h às 18h. Agendamentos podem ser feitos pelo telefone (55 99955-1659) ou email ([email protected]).

A gestora do Parque Natural Municipal Pedra do Segredo, Jackeline Moreira, 35 anos, conta que o período com mais trânsito de turistas é nos finais de semana. Para ela, a certificação da Unesco além de valorizar a cidade e incentivar o turismo, também demanda mais responsabilidade:

– Esse reconhecimento nos traz muito mais responsabilidade porque hoje Caçapava não é só nossa, é de toda a humanidade. As pessoas estão vindo para cá e estão conhecendo Caçapava e precisamos cuidar desse território e garantir que vai estar conservado para as futuras gerações. Além de aumentar a nossa responsabilidade com a natureza, (o selo da Unesco) traz uma expectativa muito grande no que se refere ao desenvolvimento do território, traz mais qualidade de vida, porque o turismo é uma indústria limpa, então, estamos muito felizes com esse resultado.

Outros pontos turísticos de Caçapava do Sul

  • Pedras das Guaritas
  • Minas do Camaquã
  • Cascata do Salso
  • Gruta da Varzinha
  • Toca das Carretas
  • Forte Dom Pedro II
  • Igreja Matriz Nossa Senhora da Assunção
  • Casa de Cultura Juarez Teixeira 
  • Jardim da Geodiversidade Professor Maurício Ribeiro
  • Museu Lanceiros do Sul
  • Guerreiro Farrapo

Geoprodutos

A valorização do patrimônio geológico não ocorre apenas na conservação, mas também com a comercialização de produtos que carregam a identidade do território, feitos com matéria-prima única da localidade e que valorizam as tradições culturais singulares da região. Esses são os chamados “geoprodutos”, que englobam uma variedade de mercadorias ligadas ao artesanato e gastronomia, por exemplo.

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Trabalhando com artesanato, especificamente com o biscuit, há mais de 20 anos, Rosa Ruschel, 51 anos, sempre participou das atividades do geoparque e procurou utilizar a iniciativa como uma plataforma para incentivar o trabalho dos colegas:

– Eu estou dentro da comissão do geoparque e consigo ajudar na seleção dos artesãos. Se acho um produto que possa ter mais qualidade, vou lá no colega e aviso, "olha, faz um trabalho melhor para apresentarmos uma coisa mais bonita", eu ajudo, tento colocar todo mundo em um padrão de qualidade. Eu tento, gosto e tenho uma liberdade muito grande com eles. Então, é isso que a Alizandra fala, que consigo, como sociedade civil, alavancar o pessoal. Isso me motiva bastante dentro do geoparque.

No seu ateliê, localizado no centro da cidade, Rosa reúne vários tipos de artesanatos que são produzidos pelos outros colegas de Caçapava, como crochê, amigurumis, bordados, chaveiros e produtos de alimentação, como geleias e azeite de oliva. Uma mesa específica é destinada somente para os geoprodutos.

– Dentro do ateliê, tenho vários colegas, além de ter a mesa, que eu digo que é a mesa do geoparque porque trouxemos um produto de cada colega para ter a identidade do nosso município, para mostrarmos e vendermos para as pessoas, para os visitantes e os turistas – detalha Rosa.

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Além do geoproduto, existem mais dois tipos de selos relacionados ao Geoparque Caçapava: de apoiador, quando qualquer pessoa que se identifica com o projeto pode contribuir; e da iniciativa parceira, que inclui os empreendimentos que estão no território, como hotelaria e gastronomia.

O que muda a partir de agora?


"Nós temos uma coordenadoria dentro da Secretaria de Cultura e Turismo, que é específica para o geoparque. Queremos ampliar isso, dar mais protagonismo ao geoparque, investir em infraestrutura e trazer novos investimentos, levando também, agora, o nome de Caçapava do Sul. Isso nos dá uma responsabilidade maior porque agora não somos mais aspirantes, somos um território geoparque. Projetos como esse do geoparque vão dar uma relevância mundial uma oportunidade de desenvolvermos a nossa região através, de como sempre falamos, uma 'indústria sem chaminés' que é o turismo, gerando emprego, renda e melhorando a vida das pessoas"


"Estamos muito felizes, vemos nas ruas, na mídia, as pessoas conversando conosco 'Oi, bom dia que felicidade nós somos Geoparque Unesco, parabéns para vocês' E eu digo parabéns para nós, porque nós somos um todo. As pessoas reconhecem que vai melhorar e valorizar as pessoas, o território, as belezas naturais, a identidade enquanto pertencimento do que somos, o comércio porque o geoparque é sustentabilidade também, ele busca sustentabilidade para território, e isso é feito com muito trabalho"


"A visibilidade do território muda muito. Isso nos dá um bom retorno e vai começar, inevitavelmente, a chamar mais turistas e visitantes para o nosso território. Precisamos ter consciência que as coisas em Caçapava não estão perfeitas e não é sobre isso que é o geoparque. O geoparque não é sobre um território totalmente perfeito, mas é uma estratégia para melhorar e transformar o seu potencial em verdadeiro atrativo turístico. O geoparque também vem para unirmos forças com outros agentes para qualificar a infraestrutura pública e privada turística do município e também o setor de turismo em termos de pessoas. O que muda ainda é que vamos precisar ter mais iniciativas de conservação da natureza e de educação patrimonial e ambiental"


"Gosto muito de viajar, de sair para fora do município, de levar o nome de Caçapava. Eu sempre fiz isso antes de ser geoparque. Sou uma das artesãs que mais faz isso dentro do município, então, eu vejo uma porta de vendas, de qualidade de artesanato, porque eu gosto de chegar nos municípios e trazer uma lembrança. Mas levar a minha lembrança para os outros vai ser magnífico"

Entenda

O que é um Geoparque?

  • Os Geoparques são territórios de um ou mais municípios, reconhecidos pela Unesco como regiões que possuem importância científica, cultural, paisagística, geológica, arqueológica, paleontológica e histórica
  • Nesses locais, a “Memória da Terra” é preservada e utilizada de forma sustentável para gerar desenvolvimento para a sua comunidade

Para ser Geoparque, as cidades devem cumprir quais requisitos?

  • Demonstrar que a área tem um patrimônio geológico de nível internacional
  • Demonstrar que o patrimônio já é usado para promover o desenvolvimento econômico sustentável da comunidade local, principalmente por meio do turismo sustentável (incluindo turismo educativo)
  • Demonstrar que todos os aspectos do patrimônio da área (tanto natural como cultural) estão integrados no geoparque – já que um geoparque não se trata apenas de geologia

O que são Geossítios?

  • Os Geossítios são locais bem delimitados geograficamente e que concentram formações geológicas com um grande valor científico, estético, ecológico, turístico, cultural e educativo
  • Rochas, fósseis, ou até mesmo o solo são exemplos
  • Locais ou áreas que melhor representam a geodiversidade de um território

Quantos geossítios tem o Geoparque Quarta Colônia?

  • O Geoparque Quarta Colônia conta com 31 geossítios de valor geopatrimonial regional até internacional dividido em diferentes categorias como valor fossilífero e fluvial
  • Além disso, conta com 23 geossítios ligados a outras formas de valor patrimonial, sendo de valor ecológico, cênico, histórico-cultural e/ou arqueológico

Quantos geossítios tem o Geoparque Caçapava do Sul?

  • No território que pertence a este geoparque há 22 geossítios
  • É formado por um conjunto de locais, como a conhecida Minas do Camaquã, Serra do Segredo e Pedras das Guaritas

A Unesco

  • A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura é uma agência especializada das Nações Unidas (ONU)
  • Fundada em 16 de novembro de 1945 com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação, ciências naturais, ciências sociais/humanas e comunicações/informação

Para conhecer mais sobre o Geoparque Quarta Colônia, como acessar aos atrativos e conhecer a história dos geossítios:

Endereço do Escritório Geoparque Quarta Colônia

  • Telefone e WhatsApp – (55) 99176-1816
  • Email – [email protected]
  • Endereço – Rua Maximiliano Vizzoto, nº 598
  • Cidade – São João do Polêsine

Para conhecer mais sobre o Geoparque Caçapava, como acessar aos atrativos e conhecer a história dos geossítios:

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